Yanny Brena era uma liderança política em ascenção no Cariri. Junto com o irmão, Yury do Paredão, recém-empossado deputado federal, se fortalecia como força paralela em uma região de tradicionais famílias políticas. A morte trágica e precoce da vereadora do PL é triste pela vida perdida - e todas as possibilidade que a expectativa de futuro carrega - e por ser menos uma voz jovem e feminina no poder.
A presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, terceiro maior município do Ceará, foi encontrada morta nesta sexta-feira (2), em sua casa, ao lado do namorado, Rickson Pinto.
A principal linha de investigação, segundo a Polícia, aponta para o crime de feminicídio seguido de suicídio. Yanny Brena era uma mulher e ocupava cargo político, não são posições de segurança na nossa sociedade, basta olhar os números de violência contra mulher e de violência de gênero na política. A devida apuração do caso e discussão pública são fundamentais para jogar luz sobre a gravidade do volume de crimes de ódio baseado no gênero.
Dos 21 vereadores da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, apenas três são mulheres. Agora, ficam apenas duas. Yanny, a mais nova vereadora de Juazeiro e segunda mulher a presidir a Casa, conquistou um espaço caro em um ambiente machista e pouco habituado a ver mulheres com voz, votos e poder.
Em 2020, quando foi eleita vereadora para o primeiro mandato, foi a segunda mais votada no município, com 3.956 votos, atrás apenas de outra vereadora, Jacqueline Gouveia.
Yanny atuava no Legislativo e na saúde pública de Juazeiro, após formar-se em Medicina em 2021. Cada mulher que ascende numa profissão e na política representa uma conquista coletiva. Em uma publicação em suas redes sociais no ano passado, pelo Dia Internacional da Mulher, Yanny reforçava seu olhar sobre essas conquistas.
"Não restam dúvidas que avançamos. Contudo, infelizmente, ainda existem desrespeito, discriminação, feminicídio, exclusão. Não podemos nunca parar de reagir e de avançar com atitude"
YANNY BRENA
Vereadora de Juazeiro
Especialmente nesses dias que antecedem mais um Dia Internacional da Mulher, é impossível não situar a morte de Yanny como mais uma perda coletiva. Ela lutou, enquanto pode, pelo combate à violência contra a mulher, pela saúde pública, pela ciência, pela juventude e pelo diálogo na política.
O último registro nas redes sociais foi na última quarta-feira (1°), celebrando a aprovação do reajuste salarial dos servidores de Juazeiro.
Nesta sexta, nas redes sociais, a vereadora mais jovem do Brasil, Ranya Freitas, eleita aos 18 anos para a Câmara Municipal de Sanharó, no Agreste de Pernambuco, relembrou os diálogos com Yanny: "Dividíamos nossos dias por direct, às vezes falando até da parte de vivenciarmos a juventude em conciliação com nossas responsabilidades".
Sem dúvidas, não era uma jornada fácil. Mas Yanny seguiu até onde pode. O feminicídio é um desfecho brutal para uma vida, consequência do machismo que está na base e na cultura da nossa sociedade. Agora, é aguardar os desfechos da investigação e cobrar a quem segue na política o foco na luta por um lugar melhor e mais seguro para as mulheres.
Fonte: Diário do Nordeste