A agonia de Marco Archer Cardoso Moreira, isolado em uma cela à espera da morte, depois que o presidente indonésio disse não ao derradeiro apelo de Dilma
Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Desde que o governo da Indonésia marcou a data de sua morte para domingo 18, o pouco de esperança que ainda restava ao carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 53 anos, foi ceifada e seus dias têm sido de aflição e desespero, isolado em um cela preparatória para o momento final, sob a mira de um pelotão de fuzilamento. Preso desde 2003 por tráfico de drogas, o instrutor de asa-delta deve entrar para a história como o primeiro brasileiro a ser executado por um governo estrangeiro. Descrito pelos amigos como confiante e otimista, Moreira nunca acreditou que seria executado. Desde que soube da marcação da data, está em estado de choque, segundo seu advogado indonésio Utomo Karim. Não consegue dormir direito e chegou a pedir que os guardas o matassem antes de ser transferido para a prisão Pasir Putih, a 400 quilômetros de onde estava, conhecido como “o corredor da morte”. Na sexta-feira 16, a presidente Dilma Rousseff, que há dias tentava contato com o presidente indonésio recém-eleito, Joko Widodo, finalmente falou com ele. Mas teve seu apelo negado. Em nota, a presidente “lamentou profundamente a decisão de levar adiante.” Em protesto, a ONG Anistia Internacional também havia lançado uma ação mundial para pressionar o governo da Indonésia a não executar o brasileiro. “O caso do Marco foi um crime não violento. Nós somos contrários à pena de morte em qualquer situação”, afirma o assessor de direitos humanos da Anistia, Maurício Santoro.
Moreira foi preso em 2003, depois de ser flagrado transportando 13,4 quilos de cocaína alojados em uma asa-delta (leia quadro) no aeroporto de Jacarta, capital da Indonésia. Apesar de conseguir fugir, a polícia o encontrou duas semanas depois, durante uma perseguição cinematográfica acompanhada ao vivo por todas as redes de tevê do país. O brasileiro estava escondido na casa de um amigo na ilha de Sumbawa, região leste do país. Em seu depoimento, Moreira assumiu o crime e informou que um homem pagara US$ 10 mil para ele transportar a droga. Sua mãe, a funcionária pública Carolina Archer Pinto, chegou a viajar para Jacarta a fim de acompanhar o julgamento, mas faleceu em 2011. Hoje, quem apoia o esportista é uma tia, que prefere preservar a identidade e embarcou na quinta-feira 15 para encontrá-lo antes da execução. Seu objetivo era entregar cartas, lembranças e o último pedido do sobrinho, bacalhau português.
O principal algoz de Moreira é Joko Widodo, presidente eleito da Indonésia em outubro do ano passado. Ele é o terceiro governante que passa pelo país durante os 11 anos e cinco meses em que o brasileiro permaneceu no cárcere. Apesar de os seus dois antecessores preferirem não responder aos pedidos de clemência – nem negá-los –, Widodo fez questão de afastar qualquer sombra de piedade. Ex-governador da capital, ele tem apoio da população e conta com alta popularidade. Foi eleito com a promessa de executar todos os condenados por tráfico de drogas. A Indonésia é o país que tem a punição mais dura para o narcotráfico. A pena de morte, instaurada na lei antidrogas de 2000, é aplicada a quem é flagrado com dez quilos, ou mais, de entorpecentes. Apenas o indulto presidencial pode reverter a decisão da Suprema Corte e são dadas somente duas chances de pedido oficial. Há outro brasileiro na mesma situação de Moreira: o surfista catarinense Rodrigo Gularte, preso por tráfico de cocaína, em 2005, que também teve sua clemência negada por Widodo na sexta-feira 16.
Marco entrou para o narcotráfico depois de um acidente de parapente em Bali, em 1997. Desde então interrompeu a carreira de instrutor de voo livre e começou a enfrentar dificuldades financeiras. Já no topo da pirâmide do tráfico, fazia transações diretamente com os cartéis colombianos. Solteiro e sem filhos, em dez anos de crime viajou 30 vezes para a Indonésia e tinha apartamentos na Holanda, nos Estados Unidos e em Bali. Em 2003, trocou a primeira classe por uma cela na cadeia de Tangerang, a 20 quilômetros da capital. O revés, no entanto, é um luxo se comparado aos presídios brasileiros. Lá as celas são particulares e possuem até jardim privativo. Agora, depois de 11 anos de cárcere, só resta a Moreira optar se prefere ser fuzilado de pé, sentado ou deitado.
Fotos: Beawiharta/REUTERS; Álbum de família; Bay ISMOYO/afp
Fonte: ISTOÉ
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