Caso Cid Gomes confirme, até 5 de abril, que renunciará ao mandato para viabilizar a candidatura do irmão Ciro Gomes ao Senado, será o quinto governador cearense a deixar, nos últimos 50 anos, a gestão antes do previsto em prol de interesses políticos. Para especialistas consultados pelo Diário do Nordeste, é incerto o impacto de uma possível saída do chefe do Executivo Estadual ao andamento do Governo, mas, na hipótese de renunciar, Cid continuaria atuando nos bastidores do Palácio da Abolição.
O coordenador do mestrado de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Horácio Frota, enfatiza que a frágil oposição no Estado acaba fortalecendo a figura do governador cearense, mesmo desligado do cargo. Para o professor universitário, Cid só tomará qualquer decisão com a chancela do Governo Federal para minimizar o desgaste da gestão.
"Tudo que está sendo feito aqui é negociado com a (presidente) Dilma, os investimentos... Eu não acredito que ele vá sair rompido com o PT, porque seria o fim dele", ressalta. O docente pontua: "Se olhar para a vinda da presidente Dilma (ao Ceará), o fato de ela estar se referindo a ele como senador. Isso pressupõe resultado de uma negociação".
O cientista político Josênio Parente afirma que, até os anos 1960, algumas lideranças renunciavam para derrubar partidos da oposição. Ele minimiza os impactos da saída de Cid ao andamento dos projetos tocados pela atual gestão. "Um bom administrador consegue fazer a continuidade, independentemente da pessoa que esteja lá, para o eleitor ficar cada vez mais fiel", diz.
Entrosamento
Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e cientista político, David Fleischer pondera que o futuro do Governo do Estado depende do entrosamento entre Cid e o vice-governador Domingos Filho, que seria o primeiro sucessor. "Se (a ligação) é bastante forte, esses últimos nove meses de mandato teriam continuidade", analisa.
Fleischer pondera que as articulações com as agremiações também vão influenciar no futuro do Governo cearense. "Depende da coligação que eles vão montar com os outros partidos, que vão querer um pedaço maior do bolo, (vai depender) se vão apoiar o PMDB ou não", explica o cientista político.
O professor da UnB pondera que, se o governador renunciar ao cargo, terá de ficar atento ao cumprimento dos prazos das obras e execução de orçamento, sob a pena de ser questionado judicialmente. "Tem a Lei de Responsabilidade Fiscal, que no ano eleitoral sempre é mais complicada. Ele sai e fica nos fundos, tentando tutelar o vice", esclarece.
O historiador Márcio Soares explica que, antes dos anos 1960, não havia possibilidade factível de os gestores fazerem os sucessores, porque ainda não estava consolidado o cenário de alianças entre os partidos, tal qual nos moldes atuais. Nos anos 1950, ele compara o caso de Cid Gomes ao governador Raul Barbosa, que renunciou para concorrer ao Senado e, posteriormente, foi convidado para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Cid já declarou mais de uma vez que deseja passar uma temporada no BID.
De acordo com o professor de História do Ceará, foi depois da eleição do governador Virgílio Távora, em 1962, que o Ceará passou a se articular mais fortemente através de alianças. O coronel cearense foi eleito com apoio da UDN, PSD e PTN, com a chancela do ex-governador Parsival Barroso. A proposta era derrotar o senador Carlos Jereissati, do PTB. "A política continuava tradicional, com currais eleitorais, mas a novidade é que se combina agora a um projeto desenvolvimentista", explica.
A partir dos anos 1970, Márcio Soares alega que fica evidente que a pouca expressividade da política cearense amplia a pressão para que as lideranças concorram a cargos federais como modo de aumentar a visibilidade dos pleitos do Estado. "Depois do Tasso, passou a se construir um novo cenário político no Ceará, sem perder a lógica de que o que o político fala não se escreve por conta de interesses superiores", contextualiza.
Para o historiador, antes era mais facilmente identificada a troca de favores como fio condutor das relações políticas, avaliando que hoje a questão é mais complexa. "Os prejuízos podem ser grandes como interrupção de projetos. O governador arrisca manchar sua gestão em apenas um ano, caso não complete as obras", opina, exemplificando a Copa do Mundo deste ano.
Fonte, DN
Lorena Alves
Repórter
O coordenador do mestrado de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Horácio Frota, enfatiza que a frágil oposição no Estado acaba fortalecendo a figura do governador cearense, mesmo desligado do cargo. Para o professor universitário, Cid só tomará qualquer decisão com a chancela do Governo Federal para minimizar o desgaste da gestão.
"Tudo que está sendo feito aqui é negociado com a (presidente) Dilma, os investimentos... Eu não acredito que ele vá sair rompido com o PT, porque seria o fim dele", ressalta. O docente pontua: "Se olhar para a vinda da presidente Dilma (ao Ceará), o fato de ela estar se referindo a ele como senador. Isso pressupõe resultado de uma negociação".
O cientista político Josênio Parente afirma que, até os anos 1960, algumas lideranças renunciavam para derrubar partidos da oposição. Ele minimiza os impactos da saída de Cid ao andamento dos projetos tocados pela atual gestão. "Um bom administrador consegue fazer a continuidade, independentemente da pessoa que esteja lá, para o eleitor ficar cada vez mais fiel", diz.
Entrosamento
Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e cientista político, David Fleischer pondera que o futuro do Governo do Estado depende do entrosamento entre Cid e o vice-governador Domingos Filho, que seria o primeiro sucessor. "Se (a ligação) é bastante forte, esses últimos nove meses de mandato teriam continuidade", analisa.
Fleischer pondera que as articulações com as agremiações também vão influenciar no futuro do Governo cearense. "Depende da coligação que eles vão montar com os outros partidos, que vão querer um pedaço maior do bolo, (vai depender) se vão apoiar o PMDB ou não", explica o cientista político.
O professor da UnB pondera que, se o governador renunciar ao cargo, terá de ficar atento ao cumprimento dos prazos das obras e execução de orçamento, sob a pena de ser questionado judicialmente. "Tem a Lei de Responsabilidade Fiscal, que no ano eleitoral sempre é mais complicada. Ele sai e fica nos fundos, tentando tutelar o vice", esclarece.
O historiador Márcio Soares explica que, antes dos anos 1960, não havia possibilidade factível de os gestores fazerem os sucessores, porque ainda não estava consolidado o cenário de alianças entre os partidos, tal qual nos moldes atuais. Nos anos 1950, ele compara o caso de Cid Gomes ao governador Raul Barbosa, que renunciou para concorrer ao Senado e, posteriormente, foi convidado para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Cid já declarou mais de uma vez que deseja passar uma temporada no BID.
De acordo com o professor de História do Ceará, foi depois da eleição do governador Virgílio Távora, em 1962, que o Ceará passou a se articular mais fortemente através de alianças. O coronel cearense foi eleito com apoio da UDN, PSD e PTN, com a chancela do ex-governador Parsival Barroso. A proposta era derrotar o senador Carlos Jereissati, do PTB. "A política continuava tradicional, com currais eleitorais, mas a novidade é que se combina agora a um projeto desenvolvimentista", explica.
A partir dos anos 1970, Márcio Soares alega que fica evidente que a pouca expressividade da política cearense amplia a pressão para que as lideranças concorram a cargos federais como modo de aumentar a visibilidade dos pleitos do Estado. "Depois do Tasso, passou a se construir um novo cenário político no Ceará, sem perder a lógica de que o que o político fala não se escreve por conta de interesses superiores", contextualiza.
Para o historiador, antes era mais facilmente identificada a troca de favores como fio condutor das relações políticas, avaliando que hoje a questão é mais complexa. "Os prejuízos podem ser grandes como interrupção de projetos. O governador arrisca manchar sua gestão em apenas um ano, caso não complete as obras", opina, exemplificando a Copa do Mundo deste ano.
Fonte, DN
Lorena Alves
Repórter