Equipes da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) recolheram os cadáveres e levaram para a sede do órgão, em Fortaleza, onde exames serão feitos para ajudar na identificação
FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES
Conforme a Polícia, quatro adolescentes que tinham entre 14 e 16 anos, identificados como Jonathan Araújo de Brito, Iranildo Leitão da Silva Filho, Erineudo Leitão da Silva Brito e Távio da Silva Sousa, estavam em uma casa, no bairro Boa Fé, na noite de 19 de agosto e foram arrebatados por um bando formado por cerca de seis homens, em um automóvel não identificado.
A titular da Delegacia Municipal de Redenção, Tereza Cristina Cruz, afirmou que, logo após o caso, familiares dos menores desaparecidos estiveram na unidade para registrar o fato, mas não deram muitos dados de como o sumiço teria acontecido.
"Todos os familiares diziam apenas que eles tinham desaparecido, mas não diziam as circunstâncias. Um inquérito foi instaurado, no dia 21, e passamos a investigar o que poderia ter acontecido. Foi quando descobrimos que eles, praticamente, moravam juntos em uma casa, que funcionava como ponto de apoio, após a prática de delitos. Todos tinham envolvimento com infrações, principalmente o cometimento de furtos".
A delegada disse ainda, que já existem suspeitos de terem raptado os garotos, mas que os nomes deles não podem ser revelados, por enquanto. "Não podemos dizer com precisão quem fez isso, nem por qual razão, mas já temos suspeitas. Tenho a sensação que pode ter sido um grupo de 'justiceiros'; de pessoas que acham que podem resolver o problema da criminalidade com as próprias mãos".
Teresa Cristina informou que desde a semana passada recebia denúncias dando conta de que os menores tinham sido encontrados, mas quando os policiais iam checar, elas não procediam. No entanto, ontem os trabalhadores de um canavial, estavam cortando cana-de-açúcar, quando se depararam com um corpo com parte da face e uma mão para fora da terra.
Enterrados
Os funcionários da usina chamaram a Polícia, que constatou que haviam outros quatro corpos, além do que estava aparente e que, provavelmente, eram dos adolescentes. Por conta do estado de decomposição avançado em que os cadáveres já se encontravam, não foi possível fazer o reconhecimento, nem precisar o modo como foram mortos. Os cinco foram encaminhados à Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), em Fortaleza, para que os exames adequados sejam feitos (ver matéria coordenada), e os familiares realizem a identificação dos corpos.
"Havia três corpos em uma cova e dois em outra. O quinto corpo já estava em um estágio de decomposição bem mais avançado que os outros e era de um homem, que não aparentava ser jovem. Não temos registros depessoas desaparecidas fora os quatro adolescentes. Vamos investigar se o corpo já estava lá e eles encontraram, quando começaram a cavar, ou, o que pode ter ocorrido de fato", disse Cruz.
O major Rondon Lopes, comandante do pelotão da PM de Redenção, disse que dois dos corpos podem ser reconhecidos pelas famílias, os outros dois irão demandar bastante dificuldade. "Um deles tem uma tatuagem grande, que um familiar, possivelmente, pode reconhecer; o outro ainda está com as roupas e uma pulseira, que também podem ajudar no reconhecimento. Os outros dois adolescentes já estão bem desfigurados", declarou o PM.
O oficial disse, ainda, que, assim como a delegada, também já tinha conhecimento do histórico de envolvimento com atos infracionais, dos menores desaparecidos. "Alguns deles já tinham sido apreendidos e mesmo os que não tinham, já foram citados como envolvidos em furtos, porte ilegal de arma, assaltos. Todos eram conhecidos da Polícia", declarou o oficial. A casa, da qual os menores foram levados, no bairro Boa Fé, tinha roupas, mantimentos e redes, o que leva a Polícia a crer que eles estavam morando juntos.
Vítimas serão identificadas após exames na Comel
Os corpos localizados ontem em Redenção serão identificados após a realização de exames na Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). Segundo o médico perito legista supervisor do Núcleo de sexologia forense da Comel, Renato Evando Moreira Filho, há quatro núcleos na Pefoce que fazem essa perícia técnica que "apresenta provas científicas e técnicas" para confirmar ou auxiliar no reconhecimento das pessoas.
"Temos um núcleo que trata de identificar os corpos em estágios avançados de decomposição. Lá é feito um trabalho de higienização. Quando se trata de ossadas, montamos os esqueletos e a partir daí se faz uma mensuração dos ossos chave para determinar estatura, sexo, idade", explicou.
Além do médico legista, diz Renato, há outros profissionais que trabalham na identificação dos corpos.
"Há o odonto-legista, que é um perito especializado em odontologia, que vai examinar especificamente a arcada dentária. É possível identificar uma pessoa por meio da arcada, confrontando com informações que existem em um posto de saúde em que a pessoa um dia foi atendida, por exemplo", citou.
O terceiro núcleo de trabalhos da Coordenadoria faz exames de DNA no corpo encontrado para buscardescobrir a identificação daquela pessoa.
"É outra possibilidade, bastante comum em corpos muito deteriorados, por meio da avaliação do DNA. É retirado algum fragmento, até de tecido ósseo, e se faz o confronto com o DNA de algum parente da pessoa que possa ser. Temos aqui a Divisão de DNA Forense da Perícia".
Pioneirismo
O quarto núcleo de processo é o da papiloscopia. Segundo Renato, o laboratório cearense é pioneiro no Brasil. "É feita uma reidratação e reconstrução das papilas dérmicas, podendo identificar o corpo pelas digitais".
Márcia Feitosa/ Levi de Freitas
Repórteres
Fonte, DN