quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Seca no Ceará: Região da Serra da Ibiapaba pode ficar sem água


Representantes da região resolveram envolver o Judiciário na discussão, já que não vislumbram ações.
Ubajara - Construído no ano de 1983, sobre os leitos dos riachos Jaburu e Pitanga, entre os municípios de Tianguá e Ubajara, na Serra da Ibiapaba, o Açude Jaburu I, que tem capacidade para 136.760.000m³, opera atualmente com 19,35% de seus recursos, segundo dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o que pode gerar colapso iminente no abastecimento de água de toda a região, com seus 350.000 habitantes, distribuídos em 9 municípios, segundo lideranças sociais.
Preocupado com a questão, o Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba (Conderi), formado por 33 conselheiros, juntamente com representantes de movimentos sociais, voltaram a debater a questão em Ubajara, nessa terça-feira (13), em mais um, de uma série de encontros já realizados sobre o tema, neste ano.
A ideia é estimular a discussão com participação, dessa vez, do poder público, da sociedade civil e do Poder Judiciário, por meio das promotorias da Ibiapaba. "Resolvemos convidar o Poder Judiciário para vermos se algo pode ser feito, pois todas as reuniões anteriores com a participação de membros da Cagece, Cogerh, Sohidra e demais órgãos responsáveis pela manutenção do açude, em nada resultaram. Nenhuma medida, que seja preventiva, foi tomada", afirmou Glauber Augusto Lira Sousa, presidente do Conderi.
O objetivo é tentar pressionar esses órgãos para que reajam à questão, antes que venhamos sofrer um colapso no ano que vem, pois segundo a Cogerh, em julho tínhamos 118 açudes com volume abaixo de 30%; mas o levantamento feito no dia 9 deste mês, aponta que esse índice mudou para 123 açudes abaixo desse volume no Ceará", disse.
Evolução
O índice de evolução de recarga de água do Jaburu I, analisado entre os meses de março e agosto, demonstra pequeno aumento e queda gradativa no volume da barragem com 21,7% (março), seguido do aumento de 2,87%, de volume após 47 dias com registro de chuvas eventuais, resultando em 24,84% (maio); seguido de baixa para os mesmos 21,97% (agosto) de volume apresentado em março, e agora com índice bem abaixo de 20%. Ainda de acordo com os dados da Cogerh, os reservatórios do Estado já registram média de 15,3% de volume.

E as estimativas da Companhia para o início de 2016 não são nada animadoras, pois apontam que até fevereiro do próximo ano, o volume do Jaburu chegue a 13%.

Distribuição
O perímetro irrigado da Serra da Ibiapaba concentra 1.299 hectares de área, com 151 irrigantes, o que corresponde a 55% da destinação total da água ofertada. Outros 44,2% são referentes ao atendimento domiciliar, seguido de 0,5% destinados à indústria, 0,4% para uso doméstico, de consumo animal, e praticamente nada é liberado de volta para o rio.

Segundo o Comitê de Bacias Hidrográficas da Serra da Ibiapaba, formado por membros de dez municípios, compreendidos numa área de 5.987,75km², com redes de drenagem dos Rios Jaburu, Pejuaba, Arabê, Jacaraí, Catarina, Piranji, Riacho da Volta, Riacho da Pinga e Inhuçu, a região trabalha com o seguinte cenário acordado em reunião, que libera, de meados de julho deste ano até o início de fevereiro de 2016, a vazão de 611 litros por segundo para atender a demanda por água, levando em consideração a projeção do nível futuro de 13% de volume.

A redução tem sido 480 litros por segundo para 336 L/S (-30%) para irrigantes, 284 L/S para 270 (-5%) para o atendimento da Cagece, enquanto o abastecimento de água para a indústria tem se mantido em 3 L/S, além do uso doméstico e manutenção dos animais, que segue em 2,2 L/S ofertado.

O encontro, que reuniu cerca de 100 pessoas, entre secretários municipais, vereadores, representantes de sindicatos, de associações, professores e estudantes, teve como participantes Judite Araújo, presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica da Ibiapaba, Padre Lusmar Sousa, representante da Diocese de Tianguá, Marcelo Cochrane, promotor do Ministério Público do Ceará (São Benedito), Liliane de Carvalho, do Movimento Ibiapabano de Mulheres, e Glauber Lira, presidente do Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba (Conderi).

Encaminhamentos
Para o promotor Marcelo Cochrane, "após essas discussões levaremos um documento com o levantamento das ações a serem tomadas, aos representantes de cada município que compõe a Serra da Ibiapaba.

No documento, constam a real situação em que se encontra nosso principal reservatório e algumas medidas preventivas de economia do uso da água disponível. O MPE acompanhará essas ações por meio de cada promotor instalado nesses municípios para que possamos obter resultados efetivos", disse.

"Contamos agora com o apoio do MPE para que o alerta seja ampliado junto à sociedade, para que tomemos consciência de que não podemos nos manter calmos diante de projeções que afirmam abastecimento até meados do ano que vem, contando com a chegada das chuvas.
Temos que levar em consideração alguns fatores climáticos como o El Niño, que ameaça manter a falta chuvas em nosso Estado", finalizou Glauber Lira, presidente do Conderi e articulador da reunião.

El Niño
De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a probabilidade de o fenômeno El Niño acontecer em dezembro próximo é de 98%, e com probabilidade de se estender em 94%, entre os meses de janeiro, fevereiro e março de 2016, alterando consideravelmente a circulação atmosférica prejudicando a quadra chuvosa, que tem em seu ponto máximo os meses de março e abril. Os dados foram atualizados pela Agência Oceânica e Atmosférica (Noaa), dos Estados Unidos, no último dia 8.

"Este quadro se parece com o que ocorreu entre o fim de 1997 e início de 1998, quando o fenômeno se apresentou como um dos mais intensos dos últimos anos. Tivemos impacto total de 60% abaixo da média histórica de chuvas naquele período. O que enfrentamos agora tem proporções idênticas, e pode comprometer bastante a recarga de nossos reservatórios para os próximos anos", explicou Raul Fritz, que é meteorologista da Funceme. E alertou, ainda: "mas isso são probabilidades, então, em se tratando de clima, tudo pode acontecer".

Mais informações:
Funceme - Fone: (85) 3101-1117
Cogerh - Gerência da Bacia do Coreaú e Acaraú
Fone: (88) 3614-7522/ (85) 3218-7032

Fonte: Diário do Nordeste

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