Apesar de dada como certa por aliados e por notícias que circulavam nos bastidores há alguns dias, a saída do governador Cid Gomes do Partido Socialista Brasileiro (PSB) só foi confirmada ontem à noite, após reunião com os diretórios municipais da legenda. Juntamente com o chefe do Executivo estadual, saem aproximadamente 500 filiados da sigla no Ceará, dentre os quais o secretário da Saúde, Ciro Gomes, o prefeito Roberto Cláudio, dez deputados estaduais, quatro federais, além de prefeitos e vereadores cearenses.
A expectativa é de que o grupo que deixa o PSB, acompanhando a decisão do governador Cid, migre para o recém-criado Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Por se tratar de uma legenda nova, os riscos de questionamento dos mandatos - sob alegação de infidelidade partidária - não existirão. O futuro da caravana comandada por Cid Gomes só será definido na terça-feira à noite, após outro encontro convocado com todos os diretórios municipais.
Convites
De acordo com o governador cearense, além do PROS, também formalizaram convites para o chefe do Executivo estadual o PP, PCdoB, PDT e PSD. O prefeito Roberto Cláudio conversa hoje com o presidente nacional do PDT, ex-ministro Carlos Luppi, sobre a possibilidade de filiação do governador Cid Gomes e todos os seus liderados. No sábado, Cid conversará com o presidente do PROS, Eurípedes Júnior. Representantes dos demais partidos que apresentaram propostas também serão ouvidos.
Mesmo evitando definir o rumo dos dissidentes do PSB, os parlamentares presentes fizeram questão de frisar a segurança jurídica como um dos pontos determinantes para a escolha do novo destino. Seguindo essa lógica, o PROS é o rumo mais viável, embora o governador Cid Gomes tenha afirmado que o secretário de Educação de Fortaleza, Ivo Gomes, irmão dele, chegou a comentar que a melhor opção seria o PDT. O mesmo comentário chegou a ser repetido por outros deputados.
Questionado pelo Diário do Nordeste se as possibilidade reais de filiação seriam o PDT e o PROS, Cid desconversou: "é você quem está dizendo". Após a entrevista, ele chegou a ressaltar algumas dificuldades encontradas nos municípios, dentre as quais o total desconhecimento do PROS ou a apropriação da legenda por pessoas que faziam oposição ao grupo do PSB naquelas cidades. "Nós queremos atenuar os riscos de perda de mandato. O próprio presidente do partido sinalizou que a saída coletiva não é um ato de infidelidade partidária, mas sim de mudança de visão do partido que nós não concordamos", justificou.
Ciro Gomes também foi econômico nas palavras e evitou falar de sua predileção por uma das siglas. "Delegou-se ao governador Cid Gomes a faculdade de abrir as portas, tabular os entendimentos que restarem prudentes juridicamente, corretos politicamente e coerentes programaticamente o máximo possível, porque nós temos que chegar com humildade". E complementou: "Eu não tenho nenhuma preferência. Quero caminhar solidário ao governador Cid em qualquer que seja o seu caminho".
Na ocasião, o atual secretário da Saúde também alfinetou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que é presidente nacional do PSB. "Na minha mente, é tão imprudente o projeto pessoal que orienta o Eduardo Campos que o partido, o PSB, vai definhar", criticou.
nterferência
Sobre a interferência da presidente Dilma Rousseff na troca partidária, Cid Gomes justificou que tem atualizado a chefe do Executivo nacional dos encaminhamentos tomados pelo grupo vinculado a ele no Ceará, mas alegou que ela não chegou a sugerir qualquer filiação ao PT nem a outros partidos. No entanto, o governador cearense garantiu que Dilma sinalizou que quer manter o ex-ministro Leônidas Cristino à frente da Secretaria Nacional dos Portos.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado José Albuquerque, viaja hoje a Recife para entregar as fichas de desfiliação do partido, que podem ultrapassar os 500 filiados. Conforme lembrou Cid Gomes, o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, assegurou que assinaria um termo de anuência a todos os vereadores, prefeitos e deputados para evitar quaisquer questionamentos da Justiça. "Quem pode alegar infidelidade partidária se o próprio partido está negando?", questionou.
Segundo Cid, tanto ele como Ciro Gomes devem marchar juntos para o mesmo partido que os deputados e prefeitos, independentemente da sigla. "O que nós pactuamos aqui é que caminharemos juntos. Existem algumas alternativas com as quais estamos conversando. É fundamental que a gente mantenha esse partido unido", garantiu. As mudanças partidárias devem ser feitas até 5 de outubro. Cid Gomes afirmou que a filiação à nova legenda será feita na próxima quarta-feira.
Expectativa dos atuais aliados
Os primeiros a chegarem ao Hotel Vila Galé, na Praia do Futuro, em Fortaleza, foram prefeitos e vereadores do Interior do Estado, os quais foram seguidos por deputados estaduais e federais e por outras lideranças do PSB. Além dos filiados ao partido ligados ao governador Cid Gomes, a reunião contou com a presença de ex-secretários estaduais e de parlamentares de outras legendas aliadas ao chefe do Executivo Estadual que demonstram interessem em se filiar ao novo partido indicado por Cid.
O prefeito Roberto Cláudio vai conversar hoje de manhã com o presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, sobre o convite feito pelo partido ao governador Cid Gomes e o grupo de aliados que está deixando o PSB
Apesar de a reunião estar marcada para 19h, o governador só chegou ao local por volta das 20h15. Ele estava acompanhado do presidente da Assembleia , José Albuquerque; do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio; do ministro dos Portos, Leônidas Cristino; do ex-secretário da Fazenda, deputado estadual Mauro Filho; e do secretário estadual da Saúde, Ciro Gomes. Cid justificou o atraso, alegando que estava no enterro do tio dele, o ex-deputado Vicente Antenor Ferreira Gomes, em Itapipoca.
Durante o caminho do carro ao salão onde o encontro aconteceu, Cid, Ciro, Roberto Cláudio e Mauro Filho foram os mais assediados pela imprensa, que perguntava principalmente qual o destino do grupo. Apenas Cid deu poucas declarações, mas nada adiantou. Já Ciro evitou falar com os repórteres, alegando que nada ainda estava decidido. No caminho, alguns parlamentares, como o deputado estadual Osmar Baquit (PSD), e filiados abordaram integrantes da comitiva para cumprimentá-los.
Precipitado
Pouco antes da chegada de Cid, por volta das 20h, o vice-governador, Domingos Filho (atualmente sem partido, após deixar o PMDB), chegou ao evento sozinho e foi recebido pelo seu filho, Domingos Neto, e por outros políticos que esperavam a chegada do governador. À imprensa, ele afirmou que vai seguir junto com Cid para o partido que ele indicar. Indagado se irá concorrer ao Governo do Estado em 2014, disse que tem vontade, mas julga ser "precipitado" discutir se a candidatura é viável ou não no momento.
Com a chegada do governador, o Domingos Filho seguiu na comitiva até a sala do encontro. O espaço, contudo, era muito pequeno, o que fez com que muitos filiados tivessem que ficar do lado de fora da sala. Muitos só conseguiram entrar após a saída da imprensa, a pedido do governador e de alguns filiados, os quais alegaram que a reunião era interna. Cid pediu que os repórteres deixassem o local após responder algumas perguntas dos repórteres.
O encontro começou por volta das 20h30. Após cerca de 10 minutos do início, o deputado Mauro Filho deixou a reunião, alegando que iria a um casamento de um familiar apenas "se desculpar por não poder ser padrinho" e que retornaria em 30 minutos. O ex-secretário retornou ao evento antes do fim.
Filiação
Muito antes de o governador e o vice chegarem ao hotel, o ex-secretário da Segurança Pública, coronel Francisco Bezerra,chegou discretamente à reunião. Ao Diário do Nordeste, ele afirmou que foi para o encontro, pois vai se filiar ao novo partido indicado por Cid. De acordo com ele, o governador o teria convidado, na época em que deixou a secretaria, a se filiar ao PSB para concorrer a uma vaga de deputado estadual em 2014. "Já me sinto parte da política, mesmo sem ser filiado", comentou.
Outro ex-secretário de Cid que também esteve no evento foi o ex-titular do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Paulo Henrique Lustosa, o qual está como suplente de deputado federal, na vaga deixada por Domingos Neto. Ao Diário do Nordeste, Lustosa confirmou que vai sair do PMDB nos próximos dias e se filiar ao novo partido indicado por Cid. Segundo ele, o principal motivo é falta de "espaço partidário" dentro do PMDB.
Lustosa comentou que tomou a decisão após conversar, na semana passada, com o senador Eunício Oliveira, presidente estadual da legenda; com Cid e com Domingos Filho. Ele lembrou que, como é apenas suplente, não corre o risco de ter o mandato questionado pelo PMDB. O ex-gestor fez questão de ressaltar que não tem restrições a candidatura de Eunício, mas que defende a ideia de manter a unidade. "Ele por até ser candidato, mas desde que seja com o aval do governador", frisou.
Outros partidos
O deputado estadual Hermínio Resende (PSL) e o suplente de deputado estadual Mailson Cruz (PRB) também estiveram no hotel e comentaram que vão trocar seus respectivos partidos pela nova legenda indicada por Cid. Também presentes no evento, os deputados Osmar Baquit e o vice-líder do Governo na Assembleia, Júlio César Filho, afirmaram que não pretendem mudar de partido e que estavam no local "apenas para apoiar".
Incerteza
Antes do início da reunião, o clima entre parlamentares, prefeitos e outros aliados era de incerteza em relação ao novo partido que o grupo deve se filiar. A maioria dos ouvidos pelo Diário do Nordeste disse não saber de nenhuma informação privilegiada, mas apostou na filiação ao PROS, sobretudo, aqueles que pretendem disputar algum cargo nas próximas eleições, já que a mudança para o novo partido dá a segurança de que não terão o mandato questionado.
Mesmo o governador tendo declarado que Eduardo Campos teria assumido compromisso de não questionar os mandatos, a maioria dos parlamentares se mostrou preocupada com a possibilidade de o Ministério Público ou dos suplentes reivindicarem. Apesar das apostas na filiação ao PROS, quase todos os aliados confessaram não conhecer a nova legenda, deixando claro que a saída do PSB se trata apenas de uma "acomodação política", diante das divergências entre as direções estadual e nacional do partido.
Fonte: Diário do Nordeste
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