quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Morte do humorista Espanta completa 7 anos; relembre trajetória do “cearense de coração”

David Cunha Alves de Araújo nasceu em 18 de novembro de 1957 e faleceu no dia 24 de novembro de 2006. Foto: Divulgação
David Cunha Alves de Araújo nasceu em 18 de novembro de 1957 e faleceu no dia 24 de novembro de 2006. Foto: Divulgação
Em uma mala fechada, e protegida por um segredo, ainda estão guardados os figurinos que David Cunha, o Espanta, utilizava em seus shows. Em algum lugar na casa de centenas de fãs, existe um DVD pirata com as melhores piadas do humorista cuja morte completa sete anos neste mês de novembro de 2013.
Quando a gravação pirata começou a ser comercializada ilegalmente pelas ruas da Capital, David Cunha não gostou. O sentimento compartilhado naquela época, no entanto, não domina os pensamentos da sua viúva. Lúcia de Oliveira, que também era a produtora dos shows do Espanta, agradece a popularidade que a cópia, até hoje, traz para o marido.
“A gravação foi filmada num estande de lojas lá em Recife. O rapaz contratado pelas lojas estava filmando para colocar no telão, só que ele pegou a gravação e começou a vender. E eu lembro que o David ficou danado, ele não gostou, mas hoje eu agradeço a Deus por esse rapaz ter filmado porque cada pessoa tem uma lembrança do Espanta em casa”, afirma Lúcia.
Lailtinho Brega, humorista cearense e amigo de Espanta, define o DVD como uma febre. “O Espanta virou, depois desse DVD, a grande coqueluche. A população começou a escutar o David. O povão tava rindo na sua casa com o DVD do Espanta”, relata.
David Cunha morreu no dia 24 de novembro de 2006 em um acidente de carro, quando estava indo de Natal para Mossoró. O humorista teve um traumatismo crânio encefálico em decorrência do acidente, que aconteceu na BR-304, na altura do município de Açu (RN). David viajava com um de seus filhos, Walter Kelson de Araújo, quando o carro que dirigia capotou diversas vezes. Além da dor de perder o pai, o filho sofreu lesões leves.
Com tristeza, Lúcia lembra do dia do acidente e conta o que David fez antes de pegar a estrada onde aconteceu a fatalidade. Espanta acordou cedo, almoçou com a família galinha caipira, não deixou a mulher viajar com ele e outros fatos que a esposa revela com detalhes.

Após a morte do marido, Lúcia de Oliveira organizou o “Tributo ao Espanta” em algumas cidades e contou com ajuda dos humoristas e amigos de David. Foto: Arquivo Pessoal
Após a morte do marido, Lúcia de Oliveira organizou o "Tributo ao Espanta" em algumas cidades e contou com ajuda dos humoristas e amigos de David. Foto: Arquivo PessoalLúcia lembra do concurso de piadas que Espanta participou no programa “Show do Tom”, na Rede Record, e revela que, na última semana de vida, David e Tom Cavalcante estavam conversando sobre uma possível contratação. “Ele ia ser contratado pela Record, mas não deu tempo. O David iria à emissora na outra semana (a seguinte ao acidente) para acertar tudo”, relata a esposa.
A reportagem entrou em contato com o humorista Tom Cavalcante, que está morando nos Estados Unidos. Tom aceitou participar da matéria sobre o Espanta, mas, por motivos técnicos, a entrevista acabou não acontecendo até o fechamento da reportagem.
Do Rio Grande do Norte para conquistar o público cearense
Apesar de ser natural do Rio Grande do Norte, David ganhou visibilidade no meio artístico somente no Ceará. “Ele tinha um carinho muito especial pelo Ceará. Ficava 90% do tempo dele em Fortaleza. Foi onde ele foi lançado nacionalmente e fazia show de segunda a segunda. Eu ainda tenho a agenda dele. No último janeiro (de 2005), ele fez 49 shows, chegava a fazer 3 shows por noite”, conta Lúcia.
Essa afinidade pelas terras alencarinas também é citada pelo humorista Antônio Fernandes, a Skolástica. “O humor é um dos cartões de visita do Ceará. Apesar do Espanta não ser daqui, ele ficou conhecido nesse Estado, mais do que na terra dele. Aqui foi onde ele desenvolveu a maior parte do trabalho e conquistou muita gente”, lembra Fernandes, que era amigo pessoal de Espanta.
Lailtinho Brega, Skolástica e Espanta se apresentavam juntos no espetáculo "Sol Risos" no teatro do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar. Foto: Arquivo Pessoal/Lailtinho
Lailtinho Brega, Skolástica e Espanta se apresentavam juntos no espetáculo “Sol Risos” no teatro do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar. Foto: Arquivo Pessoal/Lailtinho
Pela atuação no Ceará, o Espanta foi escolhido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculo de Diversões do Estado (Satedo melhor humorista “in memorian” neste ano de 2013. O prêmio foi dividido com a Skolástica. A cerimônia de entrega foi realizada no dia 21 de agosto no Sesc Emiliano de Queiroz, em Fortaleza. Um amigo de David recebeu a honra, já que a esposa Lúcia, que atualmente mora em Manaus (AM), não pôde comparecer.
“Ele hoje estaria comemorando comigo o prêmio de melhor humorista pelo Ceará. O artista pode morrer fisicamente, mas espiritualmente ele recebeu o prêmio de melhor humorista. A gente tinha uma ligação, até o Sated escolheu a gente juntos para homenagear. Para você ver como o amor vai além do Ghost”, brinca Skolástica.
O carinho de David pelo humor se estendia para fora dos palcos, de acordo com Lúcia. “Ele era um ser iluminado, onde ele passava, ele deixava o rastro. Fazia um show no palco, fazia outro no camarim, fazia no posto de gasolina, fazia no banco, onde ele passava, ele fazia um show. Não é que nem esses humoristas que se apresentam e depois viram uma pessoa normal. Ele era humorista 24 horas, direto”, ressalta a esposa.
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo PessoalLailtinho Brega lamenta a falta do humorista. “O público cearense ficou muito carente com a ausência do Espanta. Ele era um humorista que só aparece uma vez na vida, era tecnicamente perfeito”, diz. Outro amigo do potiguar era Augusto Bonequeiro. “Era uma figura muito engraçada, cativante, que cultivava as amizades e eu tive a alegria de tê-lo como amigo. A qualidade do humor que ele fazia faz falta demais. Era engraçado no palco e na vida”, relata o amigo.
Augusto e Lailtinho lembram do acidente e contam o quanto Espanta gostava de correr na estrada. De acordo com eles, Espanta fazia um percusso de Natal para Fortaleza, uma distância de cerca de 435 km, em cerca de 3h a 4h. “Ele não dirigia, ele voava. Tinha talento para ser piloto de carro se quisesse. Ele andava a 150/180 km. Inclusive, esse desastre que aconteceu com ele não foi o primeiro. Houve outros. Deus deu a ele vários avisos e ele não aprendeu infelizmente”, relata Augusto.
ALINE CONDEREPÓRTER             Fonte, DN
Compartilhe este artigo :

Nenhum comentário:

Postar um comentário